“O atraso é uma doença moderna, como a obesidade e a depressão. Ela surgiu na sociedade da informação , afirma Marcelo Knorich Zuffo, professor titular de sistemas eletrônicos da Universidade de São Paulo (USP) . “Quem leu Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, lembra-se do Coelho Branco, sempre dizendo “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!”, ao consultar o relógio de bolso do seu colete. Vestindo um colete e usando um relógio de bolso, corre porque está atrasado. O Coelho, sempre aflito e correndo, representa a passagem inevitável do tempo.
O simpático personagem que vive correndo, não se sabe muito bem para onde ou por quê, é o símbolo da síndrome do atraso , ainda não reconhecida como transtorno psicológico, apesar de ser estudada desde 1980. Confundida com o estresse, que se trata de reação a estímulos ambientais e tem causas reais, sua principal característica é a pressão muitas vezes imaginária e desnecessária que a pessoa experimenta para resolver tudo ao mesmo tempo, o mais rápido possível.
O indivíduo que sofre de síndrome do atraso vive com a sensação de que o dia deveria ter mais de 24 horas, para dar conta de seus compromissos, mesmo aqueles sem urgência; demonstra constante irritação, impaciência, problemas de sono e tensão; apresenta agitação constante, passo acelerado, fala atropelada e escrita abreviada. São os apressadinhos no trânsito, que acionam a buzina antes mesmo que o motorista da frente tenha tempo de observar que o sinal ficou verde; aqueles que não têm paciência de aguardar a vez em filas, por exemplo, e até de esperar que outra pessoa termine de falar, mostrando-se hostis e agressivos, por pretenderem que os outros sigam seu ritmo.
Percebem-se alterações na autoestima e na auto-confiança do atrasado , pois, ao valorizar a quantidade em detrimento da qualidade, ele busca cumprir um tal número de tarefas que torna o objetivo impossível de alcançar, o que provoca frustração, autocobrança e sensação de incapacidade. Para lidar com pensamentos e emoções negativos, o indivíduo pode recorrer ao uso de remédios e de substâncias como álcool e drogas, e desenvolver compulsão alimentar, comportamentos que podem causar depressão, distúrbios gástricos, transtornos alimentares, insônia, dores musculares, fadiga e pressão alta.
A síndrome do atraso provoca muito sofrimento e prejuízos pessoais e sociais.
O escritor Lewis Caroll teria de mudar um pouco a história de Alice, caso a tivesse escrito em 2010. Entre todas as maravilhas existentes no país comandado pela Rainha de Copas, claramente haveriam celulares. Neste caso, mesmo com o temor do atraso, o Coelho Branco teria enviado uma mensagem de texto justificando que, depois de entrar na toca, não demoraria a chegar ao compromisso e também não entraria em parafuso, pois teria a certeza de que avisou, antes da hora marcada, que iria se atrasar. De forma mais clara, o coelhinho mandaria um WhatsApp dizendo que chegaria em quinze minutinhos, mas como não conseguiria chegar, ele enviaria outros vários WhatsApps consecutivos com desculpas e falando para aguardar só mais quinze minutinhos.
A Wikipedia também trás informações sobre pessoas atrasadas e as definem como portadoras do Distúrbio de Atraso Crônico . Por definição, seria um distúrbio psicológico que atinge alguns seres humanos. Pessoas que sofrem deste distúrbio tendem a subestimar o tempo que levam para finalizar uma tarefa, o que acaba fazendo-as se atrasar para atividades rotineiras.
A pontualidade é sinônimo de competência e disciplina, e sempre nos lembra da famosa “ pontualidade britânica “ , fazendo referência ao famoso relógio Big Ben, na Elizabeth Tower que abriga justamente o Parlamento Inglês, localizado em Londres . Porém, em 2012, um estudo expôs que mais da metade da população britânica se atrasa para compromissos do trabalho ao menos cinco vezes por mês. Para os responsáveis pela pesquisa, essa é a principal justificativa aos problemas de transporte público . Eu nunca imaginei que isso aconteceria na terra da pontualidade e do tão simbólico relógio, a Inglaterra. Parece ser algo totalmente contraditório. Mas , agora entendo o porquê dos ônibus e metrôs de Londres estarem sempre lotados , quando tive a oportunidade de lá estar . Na ocasião, eu também estava atrasado e super lotando o metrô, indo para a minha aula que, outrossim , já havia começado.
Neste ínterim, um estudo recente da San Francisco State University realizado com mais de 200 pessoas mostrou que 17% dos entrevistados estão sempre atrasados. Ademais,
segundo pesquisas, a cada cinco pessoas, uma sofre com problemas de atraso.
Qualquer coach em gestão de recursos humanos sabe orientar sobre as consequências de não ser pontual. Entretanto , infelizmente, poucas pessoas sabem como identificar as causas e orientar como evitar os atrasos.
Desta feita, os atrasados são vistos como irresponsáveis, preguiçosos, sem respeito com os outros e não cumpridores de seus compromissos.
Assim, o prejuízo profissional é enorme, compromete a sua imagem, levando-o à avaliações negativas e prejudicando a carreira de qualquer pessoa.
De outra banda, não se mostra incomum observarmos situações de assédio moral, constrangimentos bem como comentários vexaminosos, sendo crucial ressaltar que determinada situações podem vir a se configurar crime nos termos da legislação pátria.
Enfim, o atraso crônico ou distúrbio do atraso crônico, ou o atraso como sintoma da depressão e do TDAH , não caracteriza uma doença, mas sim um sintoma, que deve ser melhor compreendido pelos profissionais da saúde e pelos gestores de empresas e de recursos humanos, de modo a evitar julgamentos cegos, precipitados e/ ou equivocados.
Por derradeiro, o tempo e a pontualidade , são simplesmente antagônicos, podendo ser muito valiosos para uns e danosos para outros . Insta ressaltar, uma frase do tão importante bioquímico George Wald (1906-1997) em seu artigo “ A Origem da Vida” : “Num intervalo de tempo suficientemente longo, o “impossível” se torna possível, o possível provável e o provável virtualmente certo. “
Fontes: Google/ Revista Galileu/Wikipedia/
Marcos Alexandre Carvalho Alves.
Neurologista